segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Pesquisadora da Embrapa alerta para os riscos do uso de sementes pirata

Com a proximidade do período chuvoso e do início do plantio de determinadas culturas, a pesquisadora da Embrapa Cerrados, Unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Caroline Jácome Costa, faz um alerta ao produtor: a importância de se utilizar sementes certificadas. “A opção pelas sementes de qualidade superior deve ser o ponto de partida para a sustentabilidade do agronegócio. Semente pirata é um barato que sai caro. A utilização de sementes certificadas é uma questão de qualidade”, afirma.

No sistema de certificação, o produtor de sementes tem que seguir determinadas normas, estabelecidas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). “Deve-se atender uma série de requisitos ao longo da produção para que, no final do processo, haja a garantia de que se trata de um material representativo da cultivar e que atenda padrões mínimos de qualidade fisiológica e sanitária. Isso acaba se refletindo no próprio desempenho dessa semente no campo”. De acordo com a estudiosa, é possível estabelecer uma relação direta entre a taxa de utilização de sementes de qualidade e os índices de produtividade registrados para as principais culturas.

Segundo ela, a utilização de sementes piratas compromete não apenas o retorno dos investimentos do produtor, mas, também, a continuidade dos programas de melhoramento genético. “O Brasil conta com uma indústria de sementes bem estabelecida, amparada por excelentes instituições públicas e privadas de pesquisa e que oferece um produto de qualidade ao mercado. São os royalties de uma semente que o produtor compra legalmente que alimenta toda a pesquisa”, defende.

Com a utilização de sementes não certificadas, há ainda o problema da introdução de pragas e doenças em áreas indenes. “O recrudescimento de doenças já banidas em algumas culturas de importância econômica, como Cercospora sojina (mancha olho-de-rã) em soja e a disseminação de Sclerotinia sclerotiorum (mofo branco) em áreas livres da doença já foram relatados como consequências da utilização de sementes piratas”. Para as grandes culturas, o custo de produção relativo às sementes fica em torno de 5 a 6%. “Se o produtor decidir economizar com isso, ele pode ter problemas sérios lá na frente. Definitivamente não vale a pena”, afirma a pesquisadora.

Legislação - Dois fatores que podem ter intensificado o uso de sementes piratas nos últimos anos foram a demora para a regulamentação da Lei de Biossegurança, que trata, dentre outros aspectos, da comercialização de organismos geneticamente modificados no país, e a mudança da legislação referente à produção de sementes. Desde 2004, a Lei de Sementes permite a utilização de sementes próprias, o que pode estimular o desenvolvimento de um sistema de produção paralelo ao sistema formal.

Fonte: assessoria de imprensa da Embrapa Cerrados.

Clima ainda não afeta preços, mas impacto pode vir até 2011

A falta de chuvas em diversos Estados brasileiros ainda não alterou os preços agrícolas, seja de grãos, seja de verduras e legumes. Se o clima seco se prolongar, contudo, poderá gerar efeitos de curto e de médio a longo prazo. No curto prazo, o efeito aparece em legumes, verduras e hortaliças. As maiores preocupações, contudo, são com a possibilidade de a seca atingir o plantio de safras importantes, como soja e milho. Os preços de alguns desses itens já começam a ficar pressionados, devido à estiagem em outros produtores estratégicos. A forte seca que fez a Rússia perder US$ 1,1 bilhão em trigo, na pior estiagem em 150 anos, causou impacto nos preços do cereal comercializado no Brasil, que subiu 4,6% na semana passada - a primeira elevação desde novembro de 2009. O movimento de alta nos preços não havia ocorrido mais cedo graças aos estoques acumulados no país, mas agora as cotações da soja e do milho começam a subir. Esses grãos funcionam como substitutos imediatos do trigo, que teve a exportação proibida pelos russos há cerca de um mês. "As dificuldades da Rússia e os problemas de seca que estamos enfrentando agora, combinados, vão chegar nos preços agrícolas sim, mas não é possível mensurar quando", diz Antônio Comone, coordenador do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) da Fipe, que apura preços semanalmente em São Paulo. "Até o momento, não dá para perceber absolutamente nada", diz ele. Levantamento realizado pela RC Consultores com 14 produtos agrícolas mostra que itens como batata, tomate, leite, ovos e laranja estão comportados. Já milho e soja passam por elevação em agosto. A saca de soja é vendida a R$ 39 e a de milho a R$ 20,2, um avanço de 9,6% e 9,3%, respectivamente, sobre julho. A alta, avalia Fábio Silveira, sócio-diretor da RC Consultores, respondem à maior demanda sobre esses grãos. Os problemas com o trigo russo demoraram a aparecer no mercado interno brasileiro. Desde a última semana de novembro de 2009, a média de preços de uma saca de trigo caiu levemente de uma semana para a outra ou permaneceu estável. "Foram os estoques que seguraram esse baque forte que a Rússia deu, mas tem uma hora que não dá mais", diz Silveira. Na semana passada, o preço da saca de trigo subiu 4,6% sobre a semana anterior - o primeiro avanço em 36 semanas. "O tempo seco ainda não afeta os preços internamente. O aumento decorre unicamente da forte estiagem na Rússia. Se esse tempo seco continuar no Brasil, aí teremos problemas, porque em setembro começa o plantio de grãos importantes, como milho e soja, e o impacto nos preços costuma ser rápido", afirma Silveira. Segundo Comone, os estoques das empresas é que oferecerão sustentação para preços. "Muitas companhias com estoques podem optar por não mexer nos preços para ganhar o espaço do concorrente que está sem estoques, preferindo não ampliar o lucro para ganhar mercado. Esse movimento pode segurar os preços por um tempo", explica o economista, para quem, no entanto, "em mais ou menos tempo, o clima seco em São Paulo e no Brasil vai afetar os preços agrícolas". Em cinco anos da década iniciada em 2000, a inflação de alimentos e bebidas superou o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), principal indicador de inflação do país. Nos três anos em que o índice de precipitação atingiu mínimas históricas em São Paulo, o avanço nos preços de alimentos superou o IPCA. No entanto, a maior diferença entre alimentos e IPCA foi alcançada em 2002 - 6,9 pontos percentuais - ano em que não houve problemas de seca. Em 2004, quando a estiagem foi mais severa em agosto que a atual, a inflação de alimentos foi inferior ao índice cheio.
Fonte: Valor Econômico