quarta-feira, 27 de abril de 2011

Soja: Safra 80% transgênica
Nova temporada começa a ser planejada. Produtores esbarram na falta de materiais convencionais produtivos e de ‘plus’
Vedete das últimas safras, os transgênicos ou OGMS (organismos geneticamente modificados) continuarão expandindo sua área em Mato Grosso. Na safra 10/11 – recentemente encerrada no Estado - a soja transgênica respondeu por 65% de toda a área plantada, algo em torno de 4,11 milhões de hectares. Para a nova temporada, safra 11/12, a projeção é de um aumento de 15 pontos percentuais (p.p.) na área de transgênicos. Se a estimativa se confirmar, a área destinada às cultivares OGM chegará a 80% contra 20% de variedades convencionais. Considerando a manutenção da atual área de soja no Estado (6,4 milhões de hectares), os OGMs poderão responder por mais de 5 milhões de hectares, enquanto a não-transgênica ficaria com uma área de cerca de 1,22 milhão de hectares a partir do segundo semestre quando a safra começa a ser plantada. Mato Grosso é o maior produtor nacional de soja e responde por 8% da oferta mundial.
E a expectativa, segundo a Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja/MT), é de que em duas safras os OGMs ocupem 90% da área cultivada de soja no Estado, o que representaria hoje 5,69 milhões de hectares, ficando a convencional com apenas 631 mil. De acordo com o presidente da Aprosoja/MT, Glauber Silveira, muitos produtores têm interesse em plantar a soja convencional, porém estão encontrando dificuldades para adquirir sementes e variedades produtivas. Outro problema é que os produtores não estariam recebendo, das tradings, o diferencial de preços pelo grão livre de transgenia. O prometido ‘plus’ não se efetiva na hora do pagamento.Teoricamente, a soja convencional teria de garantir um lucro em torno de US$ 15 por hectare ao produtor. Mas nem todos os compradores estão fazendo esta compensação aos produtores, o que estaria causando um desestímulo àqueles que trabalham com a soja convencional.
Segundo o agrônomo Naildo Lopes, a grande vantagem dos OGMs está na facilidade do manejo da lavoura, com a aplicação da tecnologia Roundup Ready, que dispensa a aplicação de herbicidas para eliminar ervas daninhas. Para a não-transgênica, a atração está no interesse cada vez maior de europeus e asiáticos pela soja convencional. “As sementes geneticamente modificadas vão continuar dominando o mercado, mas não podemos perder de vista mercados potenciais que demandam o consumo de soja não-transgênica, como Europa, China e Coreia”, lembra Lopes. Para ele, o importante é que os produtores tenham “liberdade de escolha” para trabalhar com sementes que eles consideram mais adequadas e que vão lhes proporcionar melhor resultado. No caso da opção pelos transgênicos, os fatores que mais pesam na decisão do produtor são os preços do glifosato, variedades adaptadas à região e produtividade. “Os produtores devem colocar tudo isso na balança”, recomenda o agrônomo.
NÃO-TRANSGÊNICOS - Mato Grosso ainda é um dos poucos estados que ainda têm uma grande área de plantio de soja convencional. No Paraná, Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul, mais de 90% das áreas já são ocupadas por sementes OGMs. Se, de um lado, os alimentos geneticamente modificados agradam aos produtores porque são resistentes a pragas e mais rentáveis, de outro despertam pânico nos ambientalistas, que apontam riscos à saúde e à natureza. “A verdade é que existem argumentos favoráveis ao cultivo dos transgênicos, mas também existem razões para se defender a proteção de algumas áreas, em que os grãos seriam totalmente puros. O principal aspecto a ser considerado em favor dos alimentos geneticamente modificados é o potencial de expansão da safra agrícola. Os grãos modificados têm maior resistência às pragas e necessitam de menos herbicidas, o que teoricamente barateia os custos de produção”, afirma o agrônomo Pedro Paulo Tirloni Júnior.
Diário de Cuiabá
Marcondes Maciel

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