segunda-feira, 20 de junho de 2011

Estudo da Embrapa alerta para impacto do aquecimento global na agricultura brasileira
Pesquisa mostra que é preciso agir de forma incisiva para reduzir prejuízos ambientais e econômicos nas próximas décadas
Um alerta para o futuro. Assim os autores de um estudo feito pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), em parceria com a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), encaram os resultados da projeção que aponta estimativas do impacto causado pelo aquecimento global na agricultura brasileira até o final deste século.Trabalhando com dois cenários, um pessimista, em que temperatura aumenta de 2°C a 5,4°C até 2100, e outro otimista, com alta variando entre 1,4°C e 3,8°C no mesmo período, a pesquisa mostra que é preciso agir de forma incisiva para reduzir prejuízos ambientais e econômicos nas próximas décadas. Considerando apenas as safras de grãos, as perdas podem ficar em torno de R$ 7,4 bilhões já em 2020.
– A proposta é que o mundo todo se mobilize e comece a reduzir as emissões de gás carbônico. Estimativas mostram que as emissões chegaram a 30,6 gigatoneladas de CO2 no ano passado. Se chegarmos a 32 gigatoneladas, estaremos muito próximos do teto de aumento de 2°C que estamos querendo evitar. Em termos científicos, não sabemos o que pode acontecer quando chegarmos nesse limiar – afirma o secretário de Mudanças Climáticas e Qualidade Ambiental e um dos coordenadores do estudo Aquecimento Global e Cenários Futuros da Agricultura Brasileira, Eduardo Delgado Assad. Baseando-se no aumento de temperatura previsto pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), os pesquisadores chegaram à estimativa de que existe o risco de ocorrer uma grande redução na área apta ao plantio em todo o país caso os níveis de emissão se mantenham ou não sejam suficientemente diminuídos. A outra consequência seria a migração de culturas de uma região para outra.
– Nunca falamos em previsão. O modelo não prevê, ele projeta o futuro em um cenário. São cenários irreais, baseados no desenvolvimento da sociedade, no que pode ocorrer ou não. Se a sociedade se comportar de determinado jeito, o modelo pode ser melhor. Ou pior – explica o engenheiro florestal agrometeorologista e pesquisador da Embrapa Informática Agropecuária, Giampaolo Queiroz Pellegrino. Pellegrino ressalta que as estimativas da pesquisa consideram apenas as variedades existentes atualmente, sem levar em conta novas variações genéticas. Conforme o pesquisador, a região Sul do Brasil poderá ter 39% do total de sua área apto para o plantio da cana-de-açúcar já em 2020. Em 2070, o percentual pode atingir 93%.

O chefe de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Clima Temperado, Clenio Pillon, acredita que canaviais acabarão se espalhando por diferentes recantos do Rio Grande do Sul. Ele aposta que a cana será a cultura com maior crescimento na região nos próximos anos.
– O Rio Grande do Sul precisa de 400 mil hectares de cana para ser autossuficiente na demanda pelo etanol. Hoje, temos apenas 37 mil hectares plantados – avalia Pillon. À cana, pode se somar um aumento no cultivo de frutas cítricas, como a laranja e a tangerina, e tropicais, como o mamão e a manga. Maçãs, peras e pêssegos poderão ser afetados pelo aumento das mínimas, já que precisam de um número determinado de horas de frio. Para o superintendente do Ares Instituto para o Agronegócio Responsável, Ocimar Villela, o impacto de uma possível elevação da temperatura na cultura da soja será minimizado pelos avanços nas pesquisas de novas variedades mais resistentes ao calor. Villela defende que o tema do aquecimento seja debatido de uma maneira mais abrangente e acessível a diferentes segmentos da sociedade.– É bem claro que diminuiu drasticamente o desmatamento na Amazônia. E isso tem grande influência nos fenômenos climáticos que atingem a região Sul. O setor produtivo não concorda, por exemplo, com os recentes desmatamentos ilegais que ocorreram no Mato Grosso. Estivemos na Inglaterra recentemente para ver o que está sendo feito lá em relação às mudanças climáticas, e ficamos bem impressionados com o comprometimento de produtores, pesquisadores e governo – afirma.
Produção agrícola na região Sul do país
Se as previsões dos cientistas climáticos partidários do aquecimento global se confirmarem, e a temperatura da terra subir 3ºC ao longo das próximas décadas, a produção agrícola da região sul do Brasil ficará bem diferente. Ao lado das extensas plantações de soja, milho e arroz que atualmente rasgam o sul do Brasil de um extremo ao outro, pés de café e canaviais, aos poucos, poderão ganhar espaço. Baseado em estimativas de elevação da temperatura ao longo deste século, motivadas pelo aquecimento global, um novo mapa da agricultura brasileira está sendo desenhado. E o rascunho do futuro mostra alterações consideráveis na geografia da produção de alimentos no país se não forem tomadas medidas imediatas. No que toca à região Sul, pesquisas apontam que poderá haver diminuição da área produtiva e uma migração do que se tem atualmente como culturas características de Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Ao mesmo tempo, os três Estados possivelmente passarão a produzir alimentos, atualmente, mais restritos a São Paulo e Minas Gerais.
Considerando cenários em que haja um incremento entre 1,4ºC e 5,4ºC nas mínimas e máximas até 2100, pode-se dizer, por exemplo, que o extremo norte do RS e o oeste de SC se transformariam em terra fértil para cafezais. O
aumento na mínima corresponde à redução da possibilidade de geada, fenômeno fatal para as plantações de café. Entre as culturas que sofrerão as piores consequências das mudanças, a mais atingida será a de soja. Levando em conta todo o país, o prejuízo causado pela elevação da temperatura à produção do grão pode chegar a R$ 7,6 bilhões por ano em 2070, na avaliação mais pessimista. Além de buscar variedades que se adaptem às mudanças, o agronegócio brasileiro terá de se preocupar em aplicar novas formas de cultivo que causem menos impacto ambiental.
 Zero Hora

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